quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Orfeu

Há dez anos, o rei Orfeu vivia sonhando com sua esposa morta. E todos os dias, ele cantava seu mais triste lamento que nada curava e tudo fazia sofrer.
Certa noite, de lua nova, uma noite muito escura, surgiu um mágico dizendo que podia fazer o que o rei queria: trazer sua bela esposa de volta. Mas havia um apanágio: Orfeu nunca poderia ver a esposa durante o dia nem toca-la em hipótese nenhuma.
E assim, pôr-do-sol após pôr-do-sol, o rei perdia seu jantar e ficava até os primeiros raios solares conversando com sua amada Eurídice. Ele sentado no seu trono com suas harpas. Ela atrás de uma tela esticada em dois pilares e na frente de intensa luz.
Um dia, Orfeu desesperadamente deixa a promessa e rasga a tela com as próprias mãos, tentou inutilmente abraçar a esposa, a sombra da esposa fugiu para perto e para longe. Atrás do dourado archote, o mágico revelou que era o deus Hades. Sem alternativa o archote apagou-se para que seu mestre desaparecesse sem deixar rastros.
Uns contam que o rei, morreu, adoecendo de tanto desgosto. Outros dizem que ele pegou o archote dourado e assim encantou-se com ele. Logo voltou a cantar o amor e aprendeu usa-lo com uma pequena silhueta de papel atrás de uma nova tela, o trabalho era tão perfeito que ele ensinou a todos aquela arte de sombras na frente do archote dourado, presente de Hades.

Jorge Barboza

Colunista Social. Escritor. Revisor.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

O Príncipe Chorão

Pela primeira vez em sua tenra vida, Vossa Principesa não lamentou, não reclamou, não negociou e, somente, chorou, chorou, chorou...
Seu pai havia o alertado que não cumprir as regras dos mais simples e mais modestos jogos poderia causar um dia, demasiadamente, perdas irreversíveis...
Seu ultimo desafio foi feito com outros príncipes que não eram chorões. O jogo tratava-se de plantar uma estranha semente em um vaso de terra e, depois, de trinta dias da semeadura estranha, levar o vaso para os príncipes e o Grande Rei que prometeu dar sua filha, a mais bela de todas as princesas do mundo, pelo cumprimento do desafio.
Não podemos dizer que o Príncipe Chorão não foi criativo. Ele escolheu em seu reino uma planta exótica, nativa, nada comercial, nada popular nem comum e plantou no lugar da estranha semente.
Muitos como ele retornaram ao Grande Rei com plantas exóticas, flores cheirosas, plantas carnívoras, vegetais cantores, pequenas árvores, grandes raízes... Enfim, não entenderam que a semente era um pequeno casulo de argila e dentro dele estava uma joia: um diamante que não dava um botão de rosa, mas revelava os valores estimados pelo Grande Rei, a prudência, a humildade e a honestidade de seu cuidador...
Acho que não ficou bom, vamos começar este conto de fadas novamente...
Era uma vez um Príncipe Chorão que de tão mimado tornou-se por demais egoísta e vaidoso, por tudo e por nada chorava, chorava, chorava. Assim convencia os pais, os súditos, os vassalos, os soldados, enfim, a todos e a ninguém...
Em um determinado dia não cumpriu o maior desafio de sua vida: plantar uma estranha semente.
Só soube disso porque encontrou outros adversários que usaram da mesma artimanha: plantar qualquer coisa no lugar da estranha semente no vaso e levar para o Grande Rei.
Nesse dia parou de reclamar, lamentar e negociar com tudo e com todos, pois o Grande Rei não gritou, não esbravejou , não exultou, não xingou, mas revelou a verdade quebrando a semente estranha. A semente era de barro, argila pra ser mais exato, dentro dela havia um brilhante joia, um joia que representa o que ele mais deseja pra continuar sua linhagem e seu Grande Reino: Persistência, Resistência e Integridade.
Depois disso o Príncipe Chorão voltou para seu reino em um canto estéril, onde havia jogado a estranha semente e por desgosto criou raízes profundas, casca dura e galhos imensos que subiam e caiam, uma árvore chamada Chorão Salgueiro, ou seria, Salgueiro Chorão?

Jorge Barboza

Colunista Social. Escritor. Revisor