segunda-feira, 20 de março de 2017

Detetive

Será que tudo vai dar certo ou será um prelúdio?
Revisou suas memórias como se revira as gavetas da cômoda ou as partes do guarda-roupas, foi tirando: velhos joguetes, fotos novas, textos gastos, palavras não usuais, números esquecidos da agenda telefônica...
Não encontrou o que queria, o suor corria fortemente, espontaneamente os olhos ardiam, as mão tremiam um quase descontrole, o coração estava descompassado...
Ele começa a refletir sobre o passado profundo, escuro e úmido. Uma tela se projetava no cérebro com nuvens espessas, uma neblina forte, firme e intensa cercava tudo soltando cochichos, sons inaudíveis, sons adiados, dores curtas com agulhas...
Algo menos veloz tinha sido acionado na alma como uma alavanca de máquina caça-níqueis: esperar era saber sua verdade.
A verdade por mais dolosa, pois não tinha intenção de matar seu procurador, era muitas vezes uma condição do ser detetive atrás de: informações constantes, ultrajes, notícias de parentes longínquos, velhos amigos, novos empregos, boas namoradas, inevitáveis cobranças, pequenos empréstimos, inevitáveis cobranças, constrangimentos, deliciosas ajudas, prazeres fugazes, folhas caídas, flores colhidas, cheirosas frutas, doces venenos, sábias armadilhas, terríveis promessas, descasos, encontros, poucos ganhos, muitos gastos...
Enfim o sol surgiu na mente do detetive, iluminando tudo e mostrando um baú anônimo.
Na mão esquerda havia uma chave com o nome Pandora. A chama dada ao homem do mito por Prometeu se apagará e um enjoo forte fez a cabeça do detetive doer intensamente e intencionalmente como se algo agora pudesse fugir do controle na mente vazia.
O baú tinha seu cadeado aberto e sua chave caiu em ponto do cérebro, desapareceu completamente, enquanto a luz vacilava com as dúvidas sobre a verdade...
Uma chuva fina que se insinuava a noite toda começou redobrar-lhes a consciência, foi necessário um piscar de olhos e tudo foi deixado no lugar no labirinto íntimo, a mente está organizada por hora. A lógica resolver os fatos apesar da verdade parecer uma coisa conhecida pelo procurador: o detetive tinha que seguir as circunstâncias, analisar os fatos e denunciar seu passado e seguir em frente para concluir sua verdade antes que alguém não o redimindo o fizesse.

Jorge Barboza

Escritor e Colunista Social

sexta-feira, 10 de março de 2017

Monóculos

Recentemente tomando café da tarde com minha amiga Nana, depois de um delicioso churrasco gaúcho, tradicional em sua casa, surgiu sua pequerrucha com vocábulos divertidos: “Molango”!
Eu não sei por que surgiu o papo do monóculos, acho que a pequena com seus cabelos dourados se atrapalhou falando da mana, com a mana ou para mana. E para brincar com ela falei o seguinte: “Quando se tem um olho se usa um monóculos, quando se têm dois olhos se usa um binóculos, quando se têm três olhos se usa trinóculos, quando se têm quatro olhos se usa um quadronóculos, e quando se têm cinco olhos se usa um pentanóculos”.
– É de molango? – perguntou à pequena.
Nessa linha de raciocínio que todos riam, surgiu-me uma questão profunda sobre os inimigos do homem aranha: “Porque octopolus não era chamado de lula ou polvo”?
– É Octopus – corrigiu-me Nana sorridente.
– Essas palavras que vem do francês sempre me trazem confusão, têm coisas que não saem direito da boca da gente – inteirei fazendo gracinha.
Depois disso veio à história da framboesa que é um tipo de amora. Goiaba, pitanga e por fim o picolé de picanha.
A pequerrucha não sabia o que era uma pitanga e, consequentemente, sua cor. Lembrei-me de minha infância, onde na casa de minha vizinha colhia dessas frutinhas vermelhas doces como mel. Alguns anos depois aprendi que subindo em direção à Bahia passando por Minas Gerais, existem pitangas nas cores amarelas e roxas.
Recentemente nas ruas de Santo André tenho encontrado muitas pitangas vermelhas azedas como acerolas, ainda lembro como as frutinhas eram na minha infância também, as coisas mudam, mas as memórias não.


           
            Jorge Barboza

Escritor e Colunista Social

sexta-feira, 3 de março de 2017