domingo, 20 de agosto de 2017

É o fim do amor

           Como todo início mês reuníamos em volta dos resultados das vendas para ajustamos nossos planos de vendas, adequar produtos, criar novas estratégias e, consequentemente, desenvolver novas mídias.
            Para surpresa de todos, o amor não vigou nem em sabonete, nem em banho líquido e muito menos em perfume. Na verdade não tinha saído da prateleira e o estrago só não foi maior que não foi produzido em larga escala como seus irmãos...
Cabe aí um adendo, eu chamo de irmãos, todos os produtos que são criados simultaneamente, desde de seu conceito, passando pela alquimia, até ser embalado. Descobri por isso que a palavra “embalamento” não existe no dicionário no sentido de empacotamento, mas sim como “baloiçar, no colo ou no berço, geralmente para adormecer; ato de se drogar; sentir sensação muito agradável; mentir ou dar esperanças ilusórias”. Sendo assim os produtos irmãos possuem os mesmos tipos de processamento, adicionamento, envasamento, não são genéricos, nem mesmos gêmeos parecidos, a proposta deles era outra, a cor, a vibração, enfim, eram taxados e enfrascados, guardados, armazenados, recolhidos de três formas idênticas: banho líquido, perfume e sabonete.
Era o fim do Amor, ele não vendeu como a Prosperidade e a Harmonia, então para o bem maior da empresa, dos associados, dos funcionários, dos consumidores desta e das próximas gerações optamos com grande dor pela mudança do nome do produto...
Não me venha com esse tal de moralismo! Era preciso mudar o nome do Amor, ou jogar tudo fora em questão de dias e por necessidade de armazenamento da nova produção de harmonia e de prosperidade. Acredito que distribuir como brinde para parceiros e possíveis investidores também poderia causar mais mau estar geral.
E com enorme dor no coração, amava o nome e tive um dia de insônia, um mau súbito de não comer, não relaxar, de estresse, sei lá, mais o que... Decidi agora, o Amor passaria a se chamar Paixão e não que deu certo, em uma semana vendemos o estoque todo parado e por conta disso, tivemos que pagar extras na fábrica para produção imediata de novas levas ao mercado que até momento não se deu conta que a Paixão é o mesmo Amor que só mudou de nome sem perder sua característica original, se transforma e se renova em suas três formas e com seus produtos irmãos...
           

Jorge Barboza

Escritor e Colunista Social

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Gabriela Tieta


Quando começarmos a ter problemas, achei que ele tinha um fetiche de coronel e como uma boa Gabriela estava disposta a assumir a personagem de Jorge Amado: Gabriela Cravo e Canela.
Sinceramente prefiro “Tieta do Agreste”, já treinamos o “ípsilone duplo”, este era o papel de uma vida para quebrar a rotina depois de tantas noites frias e quentes...
Como Gabriela, eu tive que aprender: “eu nasci assim, eu cresci assim e sou sempre assim, Gabriela”. Lutava pelo amor que vacilava que faltava às vezes entre nós, eu ainda lutava só pelo nosso namoro, mas o coronel não quis ir embora e cada noite ele deixava claro seu posicionamento ao dizer: “Vá se lavar que vou te usar hoje”.
O coronel acabou com nosso amor, nossos encontros, minha canela, meu cravo...
Ainda aturei um mês de dezembro inteiro como Tieta preparando sua vingança contra o povo ingrato de Santana do Agreste e Mangue Seco por conta do Natal, da família, do aniversário do coronel e do Réveillon...
Finalmente chegou o dia dos Santos Reis, hora de guardar o presépio e os enfeites natalinos, hora de acabar o namoro. O plano era simples, ligar e acabar tudo pelo telefone, o coronel era violento e eu não podia deixar ele me tocar mais...
Deixei Gabriela fugir com seu cravo e sua canela, tomei uma gostosa cerveja como Tieta e ligue para o coronel, assumi a culpa que não tinha, ouvi suas críticas, suas ofensas, ri e dei meu veredicto...
Eu era a ré, a vítima, a advogada, a promotora e a juíza. Não me traia mais:
 “Revi meu próprio percurso
Me perdi no leste
E alma renasceu
Com flores de algodão
No coração do agreste
No afã de ir e vir
Ah! Fiz de uma saudade
A felicidade pra voltar...”
... A rir
                      Jorge Barboza

Escritor e Colunista Social