Era
um inverno camarada em pleno ABC Paulista, flores despontavam discretamente
nas árvores amontoadas de folhas grandes, amontoadas de galhos, sem frutos,
folhagens grandes, espessas folhas e folhas verdes, verdes escuras, extremamente
verdes. Haviam princípios de primavera, chuvas alternadas, típicos chuviscos,
garoas de passagem, nuvens carregadas em cinza, céu anil escondendo seu azul,
sol pálido, sol fraco, sol manso que parecia uma lâmpada florescente no teto do
prédio de concreto bege, nude escuro, ventos frios, geladas correntes de ar,
congelantes brisas que surgiam às vezes fortes e rápidos, às vezes vinham
fracos e alongados...
A
paz devia ser a bandeira da estação e a prática do momento se não fosse o
anúncio do jornal: “Uma laranja se jogou do 13° andar”. Não era a primeira vez
que a manchete trazia a morte de frutas como capa jornalística.
Nas
últimas duas semanas foram acontecendo casos espaçados e esporádicos: o
primeiro registrava uma banana encontrada morta por afogamento embaixo de uma
das principais pontes de ligação das cidades de Santo André e São Bernardo do
Campo em uma manhã vazia; O segundo contava que uma maça perdeu a cabeça
atropelada por caminhão em cruzamento da Avenida dos Estados entre os municípios
de Santo André e São Caetano do Sul em tarde mais que fria...
Para
mim, tudo soava estranho e bárbaro por demais: uma banana não sai do cacho sozinha,
sem salva-vidas para águas profundas, escuras, estranhas e caudalosas; uma maça
não atravessaria a rodovia com sinal fechado; uma laranja não cortaria a tela
de proteção de uma janela de um certo apartamento e por descuido ou por curiosidade
cairia sem precedentes...
Provavelmente
todas as frutas foram agitadas, envolvidas, coagidas, empurradas, pressionadas,
instigadas, forçadas, encurraladas...
Foi que a policia revelou
depois de pouco tempo, pouca investigação e muita surpresa da população em
geral. Uma adolescente com seus treze anos, tinta nos cabelos... passou pelos
locais e decidiu aplicar suas teorias de física as frutas pegas desprevenidas. A
cada semana, a jovem foi aumentando suas doses de experimento...
Em um depoimento revelador à policia, a adolescente
expressou seus fomentos, suas ideias, seus pensares, ela narrava com
normalidade como colocou fogo em um broto de feijão com etanol antes de partir
para as ruas. Lembrou também que eletrocutou uma beterraba molhada por sua
urina no jardim de sua casa.
Seus próximos planos caminhavam para novos testes, agora,
só agora, com animais vertebrados de pequeno porte até chegar aos espécimes humanos
de grande relevância.
Sem alternativas, os órgãos competentes determinaram o
tratamento da jovem em clínica psiquiátrica estadual para conciliação da moral
e dos bons costumes com a sociedade...
Jorge Barboza
Escritor e Colunista Social
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