Vou começar contando como aprendi a contar historietas
com uma menina riquíssima, branca, magrinha, de olhos verdes e fala mansa. Ela contava
assim:
“Era uma vez uma menina rica, que morava em uma mansão
rica, com sua mãe rica, seu pai rico, sua empregada rica e seu cachorro rico”.
“Era uma vez uma menina pobre, que morava em uma mansão pobre,
com sua mãe pobre, seu pai pobre, sua empregada pobre e seu cachorro pobre”.
Acredito que era seu melhor recurso para entender e
explicar a vida e, por isso, em sua homenagem resolvi escrever o seguinte:
Era uma vez uma menina feliz, uma princesa com síndrome de
down, que vivia, sonhava e esperava por um grande amor. Um amor diferente que
dava borboletas no estomago, mãos suadas, perda de apetite, aceleração no
peito, rosto enrubescido... Um amor diferente do que recebia de sua mãe e de
seu pai.
A princesa não tinha servos, escravos ou empregados, mas
era cercada de amigos inseparáveis. Sua nobreza não tinha doutores, enfermeiros
ou professores, mas era abençoada por cuidadores e mentores.
Uma tarde, ela furou o dedo em uma roca, doeu muito,
porém a princesa não morreu nem dormiu um sono de cem anos.
Na sua decima quinta lua, durante o baile, conheceu um
monstro e não se apaixonou, não se perdeu nem enviada para longe de tudo,
resistiu e continuo vivendo, sonhando e esperando o grande amor, que pode estar
aqui, ali, lá, lá, à espreita ou ao mar.
Jorge
Barboza
Colunista
social. Escritor. Revisor
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